Texto publicado na Folha em 12.10.2011 e extraído do Blog Para entender o Direito
Em 1950, Robert Schuman, então ministro de exterior francês, apresentou a gênese do que hoje se tornou a União Europeia. Segundo ele, "o estabelecimento da solidariedade [do processo] de produção tonará qualquer guerra entre França e Alemanha não apenas impensável, mas materialmente impossível".
Seis décadas depois, é fácil esquecer a lição de Schuman, mas ela ainda é a razão de ser da união. A prosperidade econômica e a integração social são meios para um objetivo mais nobre: a paz.
Paz alcançada por causa da riqueza gerada pelo livre comércio, por causa da relutância dos países em destruírem essa riqueza iniciando uma guerra contra o vizinho e por causa da mútua dependência: eu não construo tanques sem seu aço.
O mesmo ocorre com a integração social: é mais difícil guerrear contra alguém que você reconhece como igual, de quem você depende, e que contribui para sua riqueza.
Graças à União, os países da Europa Ocidental nunca viveram um período tão longo de prosperidade e paz. São quase 70 anos sem guerras em seus territórios.
Os traumas das duas guerras mundiais impulsionaram as gerações de ontem a aceitarem a dor da integração. Dos males, o menor. Mas as gerações de hoje não conhecem o horror de uma guerra em primeira pessoa. É fácil subestimarem o papel que a união tem em sua prosperidade e o risco que seu fim ou fragmentação representa.
E o sucesso da União serve ao resto do mundo. Uma Europa rica não só consome vorazmente e produz eficientemente. Ela também evita uma corrida armamentista que põe em risco seus vizinhos, e que serve de justificativa para países alhures se armarem até os dentes. Sua fragmentação gera imprevisibilidade.
Uma Europa unida é um ator único com quem é fácil dialogar, onde radicalismos locais são atenuados pela média dos demais membros.
Fragmentada, são 27 países com agendas em conflito e onde o protecionismo e nacionalismo de um único país pode forçar os demais a decisões extremas.
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