domingo, 1 de maio de 2011
MORREU O ÚLTIMO GRANDE ESCRITOR ARGENTINO: ERNESTO SABATO
“Lástima que cuando uno empieza a aprender el oficio de vivir ya hay que morir“ (pena que, quando a gente começa a aprender o ofício de viver já é preciso morrer). Sabato, que era marcado pelo intenso pessimismo, planejou o suicídio duas vezes. Mas, no fim das contas, prevaleceu sua vontade de viver. Morrer, dizia, é algo triste.
“Que horror é o mundo!”. O autor destas palavras, o escritor argentino Ernesto Sábato, morreu neste sábado de madrugada aos 99 anos de idade. No dia 24 de junho teria completado um século de existência. O criador de obras como “O túnel”, “Sobre heróis e tumbas” e “Um e o universo”, embora fosse um seguidor de um humanismo social como o de Bertrand Russel e Bernard Shaw, tendia à depressão ao estilo de Vincent Van Gogh e Antonin Artaud, também enfaticamente admirados pelo argentino.
O escritor – cuja profissão original foi a de físico nuclear – teve a marca do pessimismo nas últimas décadas de sua vida. No entanto, indicava que o planeta ainda tinha “chances”: “este século é atroz e terminará de forma atroz. A única forma de salvá-lo é pensar poeticamente”.
Com sua morte encerra-se a plêiade de escritores argentinos de fama internacional do século vinte como Jorge Luis Borges, Adolfo Bioy Casares e Julio Cortázar.
Sábato, vencedor do Prêmio Cervantes em 1984, estava há cinco anos praticamente recluso em sua casa no distrito de Santos Lugares, na zona noroeste da Grande Buenos Aires, onde residia há décadas.
Segundo sua secretária e amiga pessoal Elvira González de Fraga, há 15 dias uma bronquite complicou seu estado de saúde. “E essas coisas, nessa idade, são algo terrível”, lamentou ontem de manhã.
Coincidentemente neste domingo à noite, o autor de “Abadón, o exterminador”, que havia nascido na cidade de Rojas, na província de Buenos Aires em 1911, seria homenageado em uma conferência na Feira do Livro de Buenos Aires com a exibição de um documentário feito por seu filho, o cineasta Mario Sábato.
Uma de suas últimas aparições em público foi em 2004 no Congresso da Língua na cidade de Rosário. Ali, o português José Saramago, o definiu de “autor trágico e eminentemente lúcido ao mesmo tempo”. Sábato ficou mudo, chorou e depois abraçou Saramago.
Ontem de manhã, ao saber da morte de seu amigo, a escritora Maria Rosa Lojo destacou que Sábato “foi uma grande influência, que ia mais além da literatura”. A ensaísta María Ester Vázquez, biógrafa de Jorge Luis Borges e amiga de Sábato, afirmou que sua obra mais transcendente foi “Sobre heróis e tumbas”.
O escritor também era um especialista na História do tango. Segundo ele,“somente um gringo pode fazer a palhaçada de aproveitar um tango para conversar e se divertir”. Segundo o autor, “um napolitano dança a tarantela para se divertir. O portenho dança um tango para meditar sobre seu destino”.
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