quarta-feira, 4 de maio de 2011

A MORTE DE BIN LADEN, POR TARIQ ALI

Uma operação das forças especiais dos EUA liquidou Osama bin Laden e mais uns quantos. Ele estava numa casa segura perto da Academia Militar Kakul (o Sandhurst [real academia militar britânica] do Paquistão). A única questão interessante é saber quem denunciou a sua localização e por quê. A fuga de informação só pode ter vindo da ISI [serviço de informações paquistanês] e, se for assim, e estou convencido disso, então o general Kayani, chefe militar do país, deve ter dado luz-verde à decisão. Mais tarde ou mais cedo vai-se saber a que ponto ele foi pressionado. O evento recordou-me uma conversa que tive há alguns anos.

Em 2006, a caminho de Lahore, encontrei um conhecido dos tempos da juventude. Envergonhado, confessou que era um oficial sênior de informações a caminho de uma conferência europeia para discutir formas melhores de combater o terrorismo. Seguiu-se a seguinte conversa (uma versão maior pode ser lida em “The Duel: Pakistan on the Flightpath of American Power”):

“Osama bin Laden ainda está vivo?”

Não respondeu

“Se não respondes”, disse, “assumo que a resposta é sim.”

Repeti a pergunta. Ele não respondeu.

“Sabes onde ele está?”

Ele explodiu em gargalhadas

“Não sei, mas mesmo se soubesse, achas que diria?”

“Não, mas achei que tinha de perguntar de qualquer forma. Há alguém que saiba onde ele está?”

Encolheu os ombros

Insisti: “Nada no nosso maravilhoso país é secreto para sempre. Alguém deve saber. Há três pessoas que sabem. Possivelmente quatro. Podes adivinhar quem são.”

Podia. “E Washington?”

“Esses não o querem vivo.”

“E os teus rapazes não podem matá-lo?”

“Ouve, amigo, por que haveríamos de matar a galinha dos ovos de ouro?”

Agora, os americanos mataram eles próprios a galinha. Qual foi o prêmio prometido e a quem? Será que com isso estarão eles dispostos a pôr fim à guerra e à ocupação que foi supostamente desencadeada para liquidar Osama e que provocou mortes civis que cifram, no mínimo, quatro vezes mais que as mortes das torres gémeas. Estarão? Claro que não.

(*) Publicado no blog da London Review of Books, dia 2 de Maio

(**) Traduzido por Luis Leiria para o Esquerda.net

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