Em política, a observação da paisagem exige uma lenta e cuidadosa acomodação ótica.
O sujeito está hoje aqui, amanhã ali. Só a persistência do hábito visual permite enxergar o panorama.
Tome-se o exemplo de Paulo Maluf. Até ontem, era parte do bloco de apoio ao governo Lula.Súbito, Maluf penetra o cenário da oposição. Move-se para empurrar o PP para dentro da coligação de José Serra.A repórter Catia Seabra iluminou, na Folha, um lance protagonizado por Maluf na semana passada.
Tricotou um encontro da deputada Ângela Amin (PP-SC) com o coordenador da campanha de Serra, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).
Para facilitar o acerto nacional, o tucanato tenta soldar alianças com o PP nos Estados.
Santa Catarina é um deles. Ângela Amin é candidata ao governo do Estado. Maluf levou-a ao gabinete de Guerra.
Ouvida, Ângela disse que Maluf “participou de parte da conversa”. Depois, permitiu-se ficar na sala do presidente do PSDB.
"Fui embora e ele permaneceu, provavelmente para falar de São Paulo. Ele está bastante empolgado com a aliança", disse Ângela.
Guerra confirmou um pedaço da cena: "Foi Maluf que levou Angela Amin a meu gabinete".
Negou outro pedaço: "Ele trabalha pela aliança [PP-PSDB] dentro da bancada. Mas não discutimos a situação em São Paulo".
Neste sábado (8), no lançamento da candidatura de Geraldo Alckmin ao governo paulista, FHC disse o PSDB deseja um Brasil de “mãos limpas”.
As digitais de Maluf na aliança nacional, quiçá na de São Paulo, não ajudam alvejar o projeto oposicionista, já tisnado pela companhia de Orestes Quércia (PMDB).
Para sorte do tucanato e desassossego do eleitor, o palanque rival também não é, digamos, imaculado.
O palanque de Dilma tem vista para o PMDB governista. Compõem a paisagem Renans, Sarneys, Jáderes e outros acidentes da geografia política nacional.
Qualquer que seja a opção do eleitor –Dilma ou Serra— o direito ao voto, no Brasil uma obrigação, impõe um incômodo à vista e também ao olfato.
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