Este post é de autoria de Reinaldo Azevedo e está em seu blog. Retrata muito bem a lógica política de nosso jornalismo:
"Se alguém duvida de que estamos diante de uma forma de religião, já não precisa mais hesitar. Há muito tempo, confesso, não via algo como a principal reportagem da seção “Internacional” do Estadão deste domingo. Título: “Obama faz mundo respirar aliviado”. Trata-se de uma reportagem de Jamil Chade — ela mesma muito pia e crédula com Obama — “bombada” pela edição com um jogo de palavras que é de tirar o fôlego. “Respirar aliviado”? Sim, o texto trata de meio ambiente. Não sei se vocês entenderam isso que poderíamos chamar de um “trocadalho”... Ah, meu centenário Estadão...
Chade, vá lá, embora com uma boa vontade até comovente com Obama, reconhece: “No entanto, mesmo que Obama promova uma reviravolta na diplomacia ambiental americana, os anos perdidos pelo presidente George W. Bush já impedem que os EUA atinjam a meta de redução de emissões de gás carbônico estabelecida no final dos anos 90. E esse não é o único argumento dos pessimistas. Os planos de Obama falam sobre cortes inferiores ao que os acordos internacionais prevêem.”
Huuummm... O homem que faz o mundo “respirar aliviado”, está claro, já não vai cumprir a promessa inicial — por culpa de Bush... Obama começou prometendo assaltar o céu. Ao perceber que não era possível, atribuiu as dificuldade a São Pedro, um reacionário, vocês sabem...
Fiquemos na reportagem de Chade, que levou o histórico Estadão àquele título tão domingueiro. Escreve ele: “De forma geral, Obama deseja reduzir, até 2020, as emissões americanas aos mesmos níveis existentes em 1990. A ambição, porém, é bem menor do que prevê o Protocolo de Kyoto e o projeto ambiental europeu. Isso porque a primeira fase do plano de Obama se refere à mudança da matriz tecnológica, o que levaria anos. Apenas em 2050 os EUA teriam níveis de emissões 80% abaixo das taxas de 1990 - 60 anos depois do esperado.”
Ah, entendi. Bush ficou oito anos no poder, mas o atraso dos EUA no cumprimento de metas será de 60 anos. E Obama, que nem deu início ainda a seu mandato, não terá, é evidente, nada com isso. Deus sabe que lógica explica o “raciossímio”...
Santo Deus! Quero o meu Estadão de volta na seção "Internacional". Uma reportagem como essa seria pé de alguma página. E um título como esse jamais mereceria a letra impressa. A razão é simples: trata-se de uma parvoíce constrangedora.
Os jornais brasileiros querem continuar na Babacobamania, embora a americana já esteja voltando ao normal? Vá lá. Mas um pouco de senso de ridículo e apreço pela própria história não fariam mal a ninguém."
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