Esta é uma data emblemática. Naquele ano, um enorme grupo de estudantes invadiu as ruas de Paris colocando em xeque o Governo francês e o autoritarismo exacerbado que vigia até então. Sempre foi uma data emblemática para os esquerdistas e os líderes dos movimentos estudantis. Com o passar do tempo, tendeu ao esquecimento midiático, mas atrai cada vez mais o interesse dos intelectuais sobre o movimento.
Penso que estamos diante de um niilismo revisitado. Talvez Nietzche fosse importante para entendermos mais a lógica do movimento. A dita revolução teve seus méritos. Rompeu com a tradição judaico-cristã e com a ideologia marxista, ou seja, o autoritarismo de um e de outro foram colocados de lado por aqueles que defendiam a liberdade sobre todos os ângulos. As barricadas e as greves, sob a ótica da filosofia do pensamento foram extremamente importantes e sem dúvida, oportunizaram um novo viés humanista. Rompe-se com a religião, questiona-se a ciência e a psicanálise é sem dúvida, o assunto da moda. O espírito de 68 é um desejo de liberdade, de autonomia e de independência, onde Sartre era um ídolo.
Do ponto de vista ideológico, entendo que pouco acrescentou. Nunca se soube ao certo o que é uma sociedade justa e igualitária, até porque não somos robôs e possuímos perfis diferentes um dos outros. Algumas frases foram emblemáticas:
a) Abaixo o socialismo, viva o surrealismo; b) É proibido proibir; c) Sejam realistas, exijam o impossível; d) A imaginação ao poder; e) Abaixo os jornalistas e todos aqueles que os querem manipular. F) Abaixo o Estado. Estes são alguns slogans pinçados no livro de Daniel Conh-Bendit, o Lê Rouge, um dos líderes do movimento. É certo dizer que politicamente foi importante por fazer com que o movimento se espalhasse pelo mundo. Os jovens tinham acelerado a história. Mas o “status quo ante” não mudou. Os conservadores continuaram conservadores e os progressistas de então, na esfera ideológica, pouco ou nada contribuíram ao modelo capitalista.
Mas então, o que restou? Do discurso contra o reacionarismo, viu-se que muitos se tornaram reacionários com o passar dos anos. Outros tantos ocupam cargos no Estado que eles tanto odiavam. Talvez o discurso pela liberdade ainda seja o grande mote deste movimento. No entanto, ainda me remeto a Nietzche e ao bom amigo Zaratustra: “Você se acha livre? Quero ouvir sua idéia dominadora, e não que você escapou da opressão... Livre de quê? Zaratustra não liga para isso! Mas seus olhos devem claramente me dizer: livre de quê?”
terça-feira, 6 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
COINCIDÊNCIAS
Ítalo Calvino possui uma vasta obra, onde seu livro mais popular chama-se “As cidades invisíveis”. Muitos tentam dessa obra se apropriar, devida ou indevidamente. Nem sempre aquilo que transparece parece efetivamente ser. Assim acontece na política, principalmente quando se está em período eleitoral ou pré-eleitoral. Aliás, diria mais: nunca estamos medianamente satisfeitos e só percebemos isso quando há uma mudança de rumo. Para ilustrar a introdução, a passagem abaixo é perfeita.
Em uma pequena cidade americana, ao sul dos Estados Unidos, essencialmente agrícola, que um dia já havia sido celeiro da região, por décadas discutiam-se formas de se desenvolver as potencialidades regionais e locais. No entanto, o pensamento médio conservador, essencialmente republicano, acreditava que o retorno à tradição e aos valores daquele povoado fariam com que, um dia, o desenvolvimento ali se instalasse. Continuaram vivendo assim. Anos e anos. Décadas e décadas acreditando que a simples troca de nomes redundaria em desenvolvimento.
Um belo dia um negro ganhou as eleições. Foi o caos. Aquela sociedade conservadora, composta essencialmente por produtores endividados, esperançosos de um dia verem retornar os tempos auspiciosos de outrora, teriam que conviver com um negro pobre, sem berço, sem tradição. Era o fim dos tempos, bradavam as senhoras, rumando para seus chás beneficentes. Para aquela sociedade, tradicional, só “prestava” quem fosse rico de berço. Não lhes interessava que o negro tornara-se um próspero comerciante. O preconceito racial e cultural pesava mais alto.
Pois bem. O novo administrador lutou contra tudo e contra todos. Conseguiu gerar desenvolvimento, emprego, melhorou a renda de boa parte da comunidade. Conseguiu trazer escolas e até faculdades. Pecou pelo excesso. E pela desídia em determinados momentos. Mas obstinado foi até o fim. A sociedade passou a lhe “respeitar”, não obstante jamais ter sido considerado como um dos deles. Torciam, agora calados, pela sua desgraça. Já tinham conseguido tudo e precisavam dele se livrar. Mas isso nunca foi uma tarefa fácil. E novas derrotas viriam. Calvino certa feita disse: “Quando tenho mais idéias do que os outros, dou-lhe essas idéias, se aceitam; e isso é comandar”. Este texto tem a pretensão de ser uma crônica e qualquer semelhança com a realidade é uma mera coincidência. Escrevi e assino embaixo.
Em uma pequena cidade americana, ao sul dos Estados Unidos, essencialmente agrícola, que um dia já havia sido celeiro da região, por décadas discutiam-se formas de se desenvolver as potencialidades regionais e locais. No entanto, o pensamento médio conservador, essencialmente republicano, acreditava que o retorno à tradição e aos valores daquele povoado fariam com que, um dia, o desenvolvimento ali se instalasse. Continuaram vivendo assim. Anos e anos. Décadas e décadas acreditando que a simples troca de nomes redundaria em desenvolvimento.
Um belo dia um negro ganhou as eleições. Foi o caos. Aquela sociedade conservadora, composta essencialmente por produtores endividados, esperançosos de um dia verem retornar os tempos auspiciosos de outrora, teriam que conviver com um negro pobre, sem berço, sem tradição. Era o fim dos tempos, bradavam as senhoras, rumando para seus chás beneficentes. Para aquela sociedade, tradicional, só “prestava” quem fosse rico de berço. Não lhes interessava que o negro tornara-se um próspero comerciante. O preconceito racial e cultural pesava mais alto.
Pois bem. O novo administrador lutou contra tudo e contra todos. Conseguiu gerar desenvolvimento, emprego, melhorou a renda de boa parte da comunidade. Conseguiu trazer escolas e até faculdades. Pecou pelo excesso. E pela desídia em determinados momentos. Mas obstinado foi até o fim. A sociedade passou a lhe “respeitar”, não obstante jamais ter sido considerado como um dos deles. Torciam, agora calados, pela sua desgraça. Já tinham conseguido tudo e precisavam dele se livrar. Mas isso nunca foi uma tarefa fácil. E novas derrotas viriam. Calvino certa feita disse: “Quando tenho mais idéias do que os outros, dou-lhe essas idéias, se aceitam; e isso é comandar”. Este texto tem a pretensão de ser uma crônica e qualquer semelhança com a realidade é uma mera coincidência. Escrevi e assino embaixo.
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