domingo, 6 de abril de 2008

TRIUNFO DO MAL

A banalização da vida é talvez uma das maiores lástimas da modernidade. Tudo é um espetáculo. Seja a morte estúpida ou como se diz no popular, a morte morrida. O que aconteceu com esta menina, em São Paulo, atirada pela janela, é um “espetáculo” nojento. Quem cometeu tamanha insanidade? O que leva uma pessoa a atirar uma criança para fora de um prédio? É uma pessoa ou um animal irracional?
A cada dia que passa as pessoas ficam mais revoltadas com estas atitudes. Mas a culpa, talvez, seja dos próprios familiares. Não podemos transformar a morte em um espetáculo. Ou como disse o Reinaldo Azevedo, em uma causa. Os assassinatos estúpidos se sucedem como também as causas familiares. Foi assim, com uma atriz de novela, com o menino João Hélio e agora com este anjinho, brutalmente assassinada por um monstro.
Imperioso que comecemos a discutir com maior seriedade as causas destes acontecimentos. Apenas pedir pena de morte, não basta. Por que estes fatos acontecem? E se repetem? A vida nada mais vale? O que se percebe é que as pessoas não ficam mais consternadas com a morte. Elas querem é se vingar de quem matou. Quem morreu tornou-se apenas mais um cadáver. E daquele precisamos de outro.
Sei que é duro falar de espetáculo. Mas é o que me parece. A mídia busca a cada dia tornar mais real os acontecimentos da vida. E com isso temos uma banalização da morte. È o nosso instinto animal. Sabem aquele adágio popular que diz que o difícil é matar o primeiro? É com isso que se trabalha o imaginário popular. Na modernidade foi difícil transformar em espetáculo a primeira morte e mais difícil ainda, assistir. Depois é só uma questão de tempo para todos ficarmos acostumados. Clamar por justiça não é apenas colocar uma foto do filho ou da filha em uma camiseta. O Estado de Direito nos dá mecanismos para isso, também. Estampar fotos, fazer passeatas, apenas contribui com o espetáculo da morte e o ocultamento e/ou a não-discussão das causas. Plagiando o Reinaldo, de novo, talvez o luto e o choro pela morte, neste momento, sejam muito mais importantes.

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